A ESPERANÇA E O PATRIMONIALISMO
“Pensar que a esperança sózinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo”. Frase do Educador e filófoso, Paulo Freire, (1921-1997). Em tempos difíceis em que vivemos hoje, a palavra esperança é unânime em nosso cotidiano. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss, esperança, entre seus vários significados, é: sentimento de possível realização daquilo que se deseja; confiança; fé, enfim é o ato de esperar alguma coisa. Porém, do desejo e fé até a efetiva realização de um objetivo, a razão grita mais forte; logo é necessário “se levantar, correr, ir atrás” daquilo que se deseja. Exponho tudo isto, em razão de uma herança cultural irrecusável, deixada pelos nossos colonizadores, considerada uma das piores chagas da democracia, que é o patrimonialismo. Com vários fenômenos sócio-político, como o clientelismo, paternalismo político e o nepotismo, o patrimonialismo sempre foi um dos problemas com as maiores raízes na política brasileira. Uma das definições clássicas do patrimonialismo é a apropriação do público pelo privado que vem do sentimento de posse que os agentes públicos têm pelos bens dos quais eles são responsáveis de cuidar. E, entre esses bens, estão cargos importantes na administração pública que estão sob a responsabilidade dos entes federativos e, de órgãos descentralizados e autônomos, sujeitos ao controle do Estado. Recentemente através do belo trabalho de jornais investigativo (O Estadão), manchetes como: “Sócio de haras de Juscelino é funcionário fantasma; Câmara emprega piloto e gerente do haras de Juscelino Filho, no Maranhão”, tem sido recorrentes. Com uma extensa folha corrida do uso da máquina pública em benefício próprio quando era Deputado Federal, Juscelino Filho, agora Ministro das Comunicações no Governo Lula, já se notabilizava pelo apego ao dinheiro público. Outra notícia que também chamou a atenção pela contumaz confusão entre o público e o privado foi nomeações sequenciais de mulheres de ex-governadores para serem conselheiras de Tribunais de Contas de seus respectivos Estados. E, todos eles, hoje são atuais Ministros de Estado. A titulo de ilustração, o posto é vitalício e os Tribunais de Contas, são órgãos de controle, que, entre suas atribuições está a de identificar e barrar ocorrências de nepotismo na administração pública. Sem contar o ainda nebuloso caso das joias presenteadas pelo Governo Saudita á família Bolsonaro. Como já citado, desde a Colonização, noticias como essas fazem parte do nosso dia a dia. Porém, o que entristece é o conformismo, a falta de indignação que nossas gerações naturalizaram tais práticas. É o esperado que com o tempo, a cultura de uma sociedade evolua, principalmente no período de hoje, onde há jovens politizados, com informações acessíveis em tempo real, contribuindo assim para o desenvolvimento de um senso critico mais aguçado. Entretanto, a percepção é que tal mudança de comportamento não será espontânea. Não podemos aceitar o patrimonialismo como destino. Ter esperança que transformações ocorram espontaneamente não é uma escolha coerente. É preciso provocar a indignação, é preciso se envergonhar, é preciso o engajamento de pais, das escolas no ensino de economia, política e civismo, só assim daremos o primeiro passo para quebrar essa ignorância.
Evandro Everson dos Santos
Policial Militar da Reserva e Economista pós graduado em Gestão Pública
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