“A Liberdade Depois do Silêncio"

E ela, mais uma vez, se viu repetindo ciclos. Logo ela.
Aquela que achava que já tinha aprendido, que jurava nunca mais.
Mas lá estava de novo, no mesmo lugar de dor disfarçada, de sorrisos ensaiados e palavras engolidas.

Foi preciso coragem para olhar pra dentro.
Encarar os danos causados pelas palavras que nunca disse,
pela solidão que sentia mesmo rodeada de gente,
pelas vezes que sorriu quando tudo o que queria era desabar.

Sim, ela teve que aceitar: foi mais uma vez.

Mas o que isso queria ensinar?
Que mecanismo interno a levava de volta ao mesmo ponto?

Foi então que entendeu: o cuidado que tanto esperava receber…
Era exatamente o que ela mais se dedicava a dar.
A presença que ela tanto cobrava… era a ausência que carregava dentro de si.
E a toxicidade que fingia não ver, doía…
Porque o que ela mais temia era ficar sozinha.

Ela ainda não tinha aprendido a ser livre.

Ser livre é muito mais que poder ir e vir.
É ser quem você é, por inteiro.
É poder falar sem escutar um “psiu, fala baixo”, ou “sua voz é irritante”.
É escolher uma roupa sem ouvir: “isso não combina com você, tira agora”.
É cortar o cabelo, pintar, dançar, rir alto, ir ao supermercado e escolher o que quiser…
Sem ter que pedir permissão.

À medida que escrevia suas memórias, janelas se abriam.
Uma a uma, trazendo cenas vivas, dores adormecidas, feridas expostas.
Mas dessa vez, as lágrimas vieram como alívio —
Porque agora eram apenas lembranças…
De uma mulher que não vive mais enclausurada em relações que a calavam.

E agora, o que fazer com tanta liberdade?

Às vezes, o passarinho que viveu tempo demais no cativeiro…
Não sabe que pode voar.
E nessas horas, o que ele precisa é apoio — não julgamento.
Acolhimento — não determinações.

Porque recomeçar dói.
É libertador, sim. Mas também desconcertante.
É se desconhecer.
Tudo o que ela fazia era para ser aprovada, aceita, validada.

Agora, é tudo novo. Livre.
É sobre aprender a se ver, se reconhecer, se reconstruir.
E aceitar que toda verdade — por mais difícil que seja — liberta.

Por: Alessandra Rosa